Margarida Agostinho
Margarida Agostinho (Lisboa, 1976)
Desde 2002, faz parte do staff do c.em – centro em movimento, é gestora artística e investigadora nos estudos do corpo, da escrita e do movimento. O seu percurso académico iniciou-se com uma licenciatura em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE, mas foi na arte e na investigação que encontrou o espaço para aprofundar os seus interesses.
A escrita sempre foi um lugar de reflexão e de escolhas, um espaço de constante interrogação sobre como nos posicionamos no mundo. Desde os primeiros anos de envolvimento com o c.e.m em 1999, tem adentrado o corpo e o movimento como meios de conhecimento que geram e integram novas formas de perceber o mundo. Este interesse levou-a a uma pós-graduação em Pedagogia Perceptiva do Movimento e ao primeiro ano do Mestrado em Psicopedagogia Perceptiva, uma área que explora a relação entre o corpo, a percepção e a criação de conhecimento. Ao longo dos anos, tem colaborado em encontros e laboratórios de escrita com autores como Possidónio Cachapa, Mafalda Ivo Cruz, José Eduardo Agualusa, Ricardo Araújo Pereira e Jacinto Lucas Pires.
A sua paixão pela escrita, em todas as suas vertentes, levou-a a explorar novas formas de abordagem, com destaque para os cursos de Escrita de Romance com João Tordo, Escrita de Viagens com Raquel Ochoa, ambos na “Escrever Escrever”, e também Escrita de Canções com Tiago Torres da Silva no Teatro Meridional. A escrita é uma prática contínua, em que o corpo, a palavra e o espaço se encontram e dialogam.
Desde 1999, tem acompanhado e participado em diversos eventos ligados a danças tradicionais, e, desde 2005, tem-se dedicado com regularidade à prática dessas danças, atentando aos sentidos que o corpo revela através dos seus movimentos. A sua busca por aprendizagem e aprofundamento nesta área leva-a a procurar, sempre que possível, oportunidades de dançar, além de ter participado em formações específicas.
A sua trajetória artística conta com várias participações e criações coletivas. Em 2003, integrou a Zona Z, a zona de criação artística do c.em. No ano seguinte, fez parte da criação em dança “mmm – um poema físico”, de Sofia Neuparth, e, em 2009, co-criou a intervenção “Espaço e Escrita” no Festival Pedras d’Água, um trabalho que levou a escrita e a atmosfera a diversos pontos da cidade de Lisboa. De 2010 a 2015 ajudou a criar os Micro-Bailes – bailes inspirados nas danças tradicionais que serpenteiam pelas ruas e levam quem vão encontrando para uma dança mais ali à frente, promovendo encontros inesperados entre os transeuntes.
Em 2011, participou no coletivo de criação da proposta “1 ou 2 contentamentos comedidos”, apresentada no Teatro do Bairro. Em 2012, colaborou no festival Pedras d’Água com a criação “Elas”, uma peça em corpo e dança com Sofia Neuparth, realizada na Mouraria. Em 2015, publicou o livro “Casa Forra”, resultado de uma experiência imersiva de seis meses no estabelecimento com o mesmo nome, no Poço do Borratém.
Em 2016, foi responsável pela proposta de uma instalação colaborativa em escrita, “Corpos que escrevem no Chão”, apresentada no Espaço Mira no Porto, e na Festa da Casa da Cerca em Almada, em 2018. Esse trabalho explora a escrita como um gesto corporal e a relação do corpo com o espaço. No ano seguinte, foi co-criadora da atmosfera do solo “Sopro” de Sofia Neuparth e, em 2018, participou na criação de “Sarzedas”, um ajuntamento performativo que surgiu a partir da experiência vivida com os habitantes da aldeia de Sarzedas, no município de Castelo Branco.
O seu interesse pela escrita continua crescente, tendo vindo a intensificar a sua prática em espaços de Lisboa, criando ajuntamentos de escrita e de escritores que exploram as subjetividades e a interação de diferentes corpos e contextos, numa contínua investigação sobre as formas de escrever, ler e estar no mundo.
Em 2020 co-escreveu com Sofia Neuparth o livro “Movimento”, a partir de práticas de escrita ao mesmo tempo em lugares diferentes de confinamento.
Em 2021 criou o Laboratório de Pastoreio de Palavras, um ajuntamento on-line de pessoas interessadas nos processos de escrita e nas suas reverberações enquanto conhecimento, intuição, imaginação, percepção e forma de dizer coisas que ainda não-se-sabe, que se mantém semanalmente de outubro a junho desde a sua criação.
Tem também colaborado com Bibliotecas (Biblioteca de Alcântara/ Biblioteca Camões) e livrarias (Tigre de Papel) trazendo propostas com diferentes abordagens em relação aos livros e à leitura/ escrita: “Os livros que nos escolhem a nós”, em colaboração com Pedro Domingos (Psicologia), “Escrita Entre Corpos” – Uma Jam de escrita coletiva propondo uma participação activa do corpo que escreve e da sua existência lado a lado com outros corpos, e “O texto é uma passagem” – Leituras sem ordem aparente, lidas por quem quiser, do acervo de livros das livrarias.
Faz parte da banda “Adufe & Alguidar” que em 2024 lançou o Álbum “Quem canta um canto acrescenta um tempo”, e tem participado em concertos um pouco por todo o país. Dedica-se também à transmissão do canto e toque do adufe, como modo de activar acessos a uma expressão própria, a partir dos cantos e toques tradicionais. Também em 2024 lançou com o c.e.m o Audiobook Andar, Poisar, Pensar – Andar, Poisar, Pensar, Audiobook de Margarida Agostinho 2024, a partir de textos selecionados do blog que começou em 2020 – escrever na rua – escrevernarua
Implica-se num fazer sustentado pela profunda ligação a quem se é, e a formas de comunicar de dentro para fora sob os mais diversos aspetos – em particular através da escrita – e continuará a inventar propostas de trazer isso ao mundo.