c.e.m

Corpo na creche

Práticas com bébés na creche da Encosta do Castelo

Estar-com.

Seja qual for a idade, a forma, o estado de espírito, o estatuto social, o grau de desenvolvimento…seja o ser qualquer que qualquer pode ser, estar-com é o acesso praticado pelas pessoas que se dedicam à investigação artística nos estudos do Corpo e do Movimento por dentro do c-e-m – centro em movimento.

É o encontro que vai fazendo aparecer as especificidades das relações que se tecem e as singularidades dos caminhos percorridos ao longo do tempo, em continuidade.

O c.e.m-centro em movimento está com a Creche da Encosta do Castelo, regularmente, desde 2008. Vimos nascer e crescer muitas das crianças da Mouraria e arredores, filhas e netas de quem já conhecíamos de outros encontros nas ruas e praças e esquinas desta cidade, e acompanhámos muitas delas nos seus primeiros passos na escola primária da rua da Madalena que agora “mora” no Castelo de São Jorge.

Cada temporada “começamos de novo” nessa caminhada de continuar as práticas de estar-com nessa ambiencia tão feliz que esta Creche exercita.

As equipas de investigação artística que vão estando presentes nesses encontros exuberantes integram profissionais de diversas áreas como a dança, a música, a antropologia, as artes plásticas, a educação, a escrita, a biologia, a filosofia, a imagem….o que nos atravessa a cada umaum é esse entendimento de Corpo enquanto entidade complexa que não se restringe aos tecidos biológicos mas se amplia numa dimensão misteriosa integrando as diversas paisagens que caracterizam a existência.

Ir sendo Corpo enquanto o Mundo vai sendo Mundo implica escuta, estudo, criação, acção.

Estar lado a lado com o crescimento destas pessoas vibrantes com idades compreendidas entre o zero e os quatro anos implica estar atento, acompanhar e ajudar a afinar movimentos tão diversos como o desenvolvimento da fisicalidade ou do pensamento singular, a não constrição da capacidade inventiva, o suporte à densidade da confiança em “mim” e no “outro”, a elasticidade de relacionamento com situações incomuns, a integração da voz e da musicalidade enquanto expressões básicas do corpo na sua relação com o mundo, a abertura à sensibilidade da poesia do gesto, a escuta atenta ao que acontece em cada paisagem, a justeza do dar-receber, agarrar-largar, empurrar-puxar ou a auto-regulação da tensão entre corpos.

Tocar, experimentar, rebolar, perguntar, brincar, mexer, “curiosar” são práticas fundamentais no crescimento não só do indivíduo mas da qualidade do espaço entre indivíduos que constitui grupos, cidades, mundos.

A possibilidade de estar com a cidade, com a diversidade de espaços e de atmosferas, a capacidade de criar silêncio e calma com o mesmo brilho com que se cria alegria e exuberância, integram a atenção de cada investigador do c-e-m -centro em movimento.

Esta temporada a equipa do c.e.m-centro e movimento tem contado com o trabalho brilhante de Clara Bevilaqua (bailarina, actriz, professora de dança e teatro, que pesquisa as relações Arte e Infância) e Guilherme Calegari (músico e actor) pelo interior da regularidade semanal de práticas de Corpo, acompanhados pontualmente por Sofia Neuparth (investigadora artística, professora, bailarina e coreógrafa) e por outros elementos da estrutura sempre que acontecem saídas pela cidade ou visitas à casa do c.e.m.