Entre Cidades é um exercício de inter-escuta/documentação que integra a experiência artística e crítica de diversos artistas/investigadores em várias partes do mundo. O Entre-Cidades é uma actividade que prevê desenvolvimento acentuado a partir de 2019, com a deslocação anual de uma equipa de cerca de 6 pessoas no período de uma semana a uma cidade “qualquer” a designar a partir das redes que se forem criando. Essa prática será exercitada em 2018 no âmbito do Pedras-Práticas com Pessoas e Lugares mas conta já com a especificação de actividades próprias da rubrica Entre-Cidades. O Entre-Cidades concretizou-se a partir da confluência de 3 movimentos:
- O desejo de Ana Estevens (investigadora em Geografia Humana) de criar pontes entre a sua experiência no bairro do Raval em Espanha e o trabalho do c.e.m na Mouraria, constante na sua tese de doutoramento, de 2014.
- A constatação de que as pessoas que frequentam os programas de investigação e criação artísticas, tendo tido a experiência com o c.e.m da relação Corpo-Cidade, continuam práticas iniciadas connosco na sua terra natal mantendo um contacto continuado.
- A importância reconhecida pelas equipas do c.e.m de uma atenção apurada em relação à experiência de cidade vivida em outros lugares para além de Lisboa.
A partir destes 3 movimentos foi-se concretizando uma partilha de documentação em relação à experiência dos exercícios de escuta-acção desenvolvidos em diversas cidades por pessoas que atravessaram o c.e.m. Uma das constatações, e uma perspectiva que prevemos venha a ser muito interessante de trabalhar, é a elasticidade da “proximidade/distância”. É da nossa experiência que os corpos, uma vez tocados por determinada linha que os atravessa em sintonia, mantêm a capacidade de inter-escuta de forma a que se uma partícula se move todas as outras se movem afinadas sem que a distância física impossibilite essa co-ordenação.
O Entre Cidades é uma partilha do sensível no entanto a dimensão crítica emergente da documentação ajuntada é incontornável: quando aqui em Lisboa acompanhamos o que vai acontecendo, por ex., na Mouraria enquanto nos aproximamos do que se passa em Barcelona, Valência, Berlim, São Paulo ou Buenos Aires em termos das desumanizações, privatizações, desajolamentos, da construção desenfreada de hotéis, hosteis e condomínios fechados parece que é evidente que a história se repete e que a urgência de partilhar possibilidades de vida por entre o caos da cidade-mercadoria é urgente.