O “Trabalho de Fundo” é o tempo das estrelas! Existe desde antes do c.e.m existir enquanto organismo e foi um grande agregador de desejos para o que agora vamos sendo, daí ser um exercício complicado trazer aqui a sua complexidade pelo que deixamos algumas notas descritivas que sabemos não fazer justiça à sua relevância. As práticas de Corpo e Escrita sempre constituíram o chão dos encontros e cruzamentos no quotidiano do c.e.m. (São aqui assim enunciadas para facilitar o seu entendimento embora o c.e.m trabalhe a “escrita” enquanto uma das expressões-pensamentos onde o Corpo que vamos sendo se revela e tece. Talvez fosse mais apurado dizer práticas de Gesto e Escrita mas parece-nos uma apresentação ainda pouco afinada, por isso deixemos como está…). Desde o final dos anos 80, e a partir do trabalho de Sofia Neuparth, o c.e.m tem vindo a pensar, experimentar, investigar e reformular práticas que estudam o Corpo nas suas mais diversas perspectivas. Sempre privilegiando a experienciação continuada e os encontros entre pessoas que se dedicam à formação enquanto paisagem integrante da Criação e da Investigação artísticas, estas práticas foram também bebendo do estudo de outras matérias ajardinadas noutras formas do Conhecimento como a Ciência (embriologia, anatomia/fisiologia, imunologia, etc) ou a Filosofia. Só perguntadores integram as equipas de trabalho de fundo! Se não houver entusiasmo, risco, pesquisa continuada, atrevimento, rigor, amor e desejo de perguntar o que vai sendo movimento, gesto, dança, escrita, pensamento, o que vai sendo Corpo, não há possibilidade de atravessar o trabalho de fundo do c.e.m. Preferimos errar e acolher alguém que acabe por se revelar inconsistente no tónus do trabalho, e isso só se revela trabalhando, do que convidar alguém muito reconhecido no mercado e que chama muita gente ao seu encontro mas que não se move em si mesmo, que se enrijeceu e parou de perguntar, replicando fórmulas. Cada dia o c.e.m é arejado e remexido por pessoas diversas com desejos, universos e presenças diversas e a alegria do encontro está sempre presente. Conforme diz Maria Filomena Molder: “São raros os casos no quadro da cultura portuguesa – no caso da dança e da performance – em que se desenvolve com tanto empenhamento, entusiasmo, generosidade, criatividade e sentido profundo de comunidade um projecto desta ordem.” É do Trabalho de Fundo que emergem muitas das práticas exercitadas nos laboratórios de investigação artística.
As “práticas de corpo acontecimento”, a “vertical” ou “corpo, dança, movimento” dedicam-se ao nascer do gesto a partir da escuta do movimento, no silêncio do corpo (a partir do exercício de práticas em estudo há mais de 30 anos), nos fumos e fluxos que vão gerando formas (desdobrando a fisicalidade e poesia do corpo atravessante a atravessado por movimento) ou nas dinâmicas de um corpo comum (experienciando a dança que surge no entre-corpos, a fisicalidade do corpo 1 e do corpo multidão)
“corpo dinâmico/corpo flutuante” são sessões de dança que se dedicam a experimentar como articular e reciclar energia e força, abrir conexões no sentido de experienciar as linguagens do corpo, de arriscar e saborear a dança. O exercício de uma outra dimensão ao encontro da confiança na incrível criatividade de letting go e de alterar o óbvio.
“corpo paisagem” e ”aikidô” são sessões matinais de trabalho de corpo que têm por objectivo proporcionar uma forma harmoniosa de começar o dia. “corpo paisagem” propõe um mergulho na fisicalidade do imaginário, convida a saborear a expansão do ritual da presença na imersão Corpo-Espaço, Espaço-Corpo. O “aikidô” traz a proporcionalidade, a não-violência, a consciência, as memórias, a relaxação, o “enraizamento”, a “ligação” e o controlo de si mesmo antes de tentar controlar os outros.
A “fisicalidade da escrita” quer deixar aparecer um texto que tem coisas para dizer, o que é muito diferente de um texto que escrevemos para dizer coisas. Trabalhar o fazer do texto, o feed-back enquanto trabalho de grupo de investigação em escrita, com partilha de textos, e insistir no encontro corpo-a-corpo com a escrita.
“Baileia”, “dias de mim”, “contar uma história” e “dança com adolescentes”, são práticas de movimento com bebés, crianças e jovens que têm por objectivo abrir a experiência do movimento, da dança, da música, da partilha de espaços e ideias, da relação entre corpos, a grupos diversificados de pessoas mais pequenas potenciando sempre o cruzamento inter-geracional e inter-universos de ser-estar-fazer.