Sofia Neuparth
Nasci em Lisboa, em 1962. Sempre amei o movimento! As minhas primeiras tentativas em dança foram com Teresa Rego Chaves e Anna Mascolo, depois de ter sido corrida de uma classe de ginástica rítmica para a qual … obviamente… não tinha nascido.
Fiz a minha formação em dança clássica com o mestre Tony Hulbert, embora não possa esquecer a importância que tiveram Madame Violette Quenolle, Anatoli Gregoriev, Jorge Garcia ou Michel Renaud.
Aos 18 anos comecei a ensinar dança e a estudar filosofia, anatomia e fisiologia. Terminei o curso de tradutora intérprete do ISLA e completei a Alliance Française e quando concorri para cargos onde poderia aplicar directamente essas ferramentas percebi que a minha vida seria criar espaços onde pudesse dedicar-me ao estudo do corpo e da relação.
Durante 6 anos fiz estágios em Londres, no “The Place”, e noutras escolas de dança contemporânea, onde tive a oportunidade de desenvolver trabalho com artistas como Robert North, Kazuku Hirabayashi, Lloyd Newton ou Karen Burgin.
Trabalhei voz com Mário Marques e Lúcia Lemos e cantei em bares com a Banda de Zé Carvalho.
Considero muito importante para o meu percurso na arte o encontro no final de 80 com a European Dance Development Center, em Arnhem, na Holanda onde fui para um estágio de meses e acabei dando as aulas da Mary Fulkerson (Mary O’Donnel), então co-directora da escola.
Além da experiência como professora de grupos de alunos vindos de toda a parte do mundo, tive ainda oportunidade de estudar com Eva Karckzag, Simone Forti, Steve Paxton, Martha Moore, Peter Hulton, Jim Fulkerson, Sally Silvers, Mary O’Donnel, Bonnie B. Cohen, Aat Hougeé e Lisa Krauss.
No final dessa década comecei a ajuntar criadores e teóricos de várias áreas para reflectir sobre a urgência da criação de um espaço elástico para formação, criação e investigação artística. Foram anos de dedicação à construção de novas vias de trabalho de Corpo para começar a construir plataformas que deram origem à criação do que é hoje o c.e.m – centro em movimento um organismo que se dedica à formação e investigação artística, à criação e experimentação bem como a práticas de geração de comum com pessoas e lugares, sempre a partir da escuta do Corpo e do Movimento.
No início de 90 trabalhei como intérprete nas criações de Mary Fulkerson, Amélia Bentes, Peter Michael Dietz, José Laginha e Miguel Abreu e comecei a criar “situações performativas”.
A actividade enquanto cidadã expressa-se na forma de estar no quotidiano e continua-se nos debates e conferências em que participo escutando um lugar para o desenvolvimento da Arte enquanto forma de Conhecimento e a implicação de cada umaum na geração de mundo.
Integrei vários grupos de reflexão, discussão e acção político-cultural como a APPD (Associação Portuguesa para a Dança) e a Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e Audio-visual, e co-fundei e fiz parte da direcção da REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, uma supra-estrutura que reúne estruturas profissionais portuguesas.
Movimento-me frequentemente naquilo que desconheço. No meu percurso enquanto investigadora é frequente sentir que o chão só se cria à medida que o pé caminha. Desde os 19 anos tenho desenvolvido trabalho com indivíduos com casos pessoais especiais (doenças terminais, deficiências mentais profundas, deficiências físicas, grupos estigmatizados..) Reconheço-lhes sempre o eco em mim.
Oriento e acompanho a formação pessoal e artística de pessoas vindas dos mais diversos lugares do Mundo… pessoas com camadas de desenvolvimento e formas de estar consigo e com o outro completamente diferentes. Não posso deixar de agradecer essa pluralidade que tem constituído a minha experiência pessoal e profissional.
Escutar, criar e comunicar são e serão a minha vida. Não se é Corpo sózinho.
O lado-a-lado com as outras pessoas que mergulham cada temporada na viagem atribulada que o c.e.m vai tecendo é chão das qualidades que me atrevo a estudar e trazer ao aparecer a cada momento.
Programação
Desenho e faço acontecer, com Margarida Agostinho, Cristina Vilhena e em colaboração com a equipa de profissionais do c.e.m – centro em movimento, toda a programação desta estrutura desde 1992 nas áreas da Investigação Artística, Formação, Experimentação, Criação, Documentação, Publicação e Práticas com pessoas e lugares, abrindo sessões regulares de práticas de Corpo e Escrita, Laboratórios, Programas de Investigação e Criação, Espaços Experimentais, Festivais, Conversas, Debates, Práticas do Centro de Documentação, Grupos de Estudo, Ensaios Abertos, Comunicações de Criações, Caminhadas e Poisios com a Cidade, Práticas diversas em ruas, praças, mercados, esquinas, casas…, num constante entretecer entre o “dentro” e o “fora”, o “interior” e o “exterior”, o eu-o outro-o mundo.
Enquanto Professora
Comecei a minha actividade como professora de dança aos 18 anos, ensinando Dança e Anatomia-Fisiologia experiencial para uma aproximação ao entendimento de paisagens Corpo e Movimento. Dois anos mais tarde comecei a desenvolver um sistema aberto que constitui uma abordagem própria ao nascer do gesto e à fisicalidade a partir das linhas que a própria experiência da dança e da escrita iam desenhando e do estudo continuado de outras áreas do conhecimento que estudam a existência humana como a filosofia, a embriologia, a fisioiologia, a geografia crítica ou a antropologia, num constante co-consideração daquilo que vai sendo prática e daquilo que vai sendo teoria.
Dedico-me ao Corpo Qualquer.
Para além do trabalho desenvolvido no c.e.m – centro em movimento tenho sido convidada para partilhar formação-criação-investigação e comunicação em vários locais do Brasil e da Europa.
Acompanhamento individual e coletivo de pessoas com necessidades especiais
Desde 2001 faço o acompanhamento individual de pessoas com necessidades especiais orientando e integrando uma equipa de investigadores artísticos do cem no sentido da criação, discussão e reapuramento de práticas de corpo ajustadas a cada encontro. Regularmente abro essas práticas a grupos, nomeadamente o grupo de teatro da Crinabel.
Criação:
Coreografia-acontecimentos
“Lá estão elas” (1990), “Kitch Q.B.” (1992), Friedlich Coexistência” (1993), “ Rosas Cristalizadas” (1994), “ Verniz” (1995), “ Vozin” (1996), “ Contos Curtos” (1997). “FFFF… O fantástico fenómeno fabricante de fãs” (1997), “36/37” (1998). “ Já vi tudo” (1999) “ Cantata Cénica Cattuli Carmina” (1999), “Ouver” (2000) , “Coração X” (2000), “Zoom” (2001), “Zoom out“ (2002), Mmm – para a Mónica” ( 2002), “Summer Sunday” (2003), “mmm” (2005), “Entre água e pó”(2006), “Dona Ivone” (2007), CRU(2009) um solo desenhado para e com Mariana Lemos, “Práticas para ver o invisível e guardar segredo”(2010), “1 ou 2 contentamentos comedidos” (2011) criação colectiva, “elas”(2012) em co-criação com Margarida Agostinho, Pátio (criação colectiva) “viver juntos mais que um”(2012) Pátio “Está saí em cima? Agarra-te ao nariz que eu vou levar o escadote”(2013) , Pátio – (2014), Pátio – (2015) “estratégia infalível para ver se isto resulta, Pátio (2016) “O que pode um corpo?”, Pátio (2017) “leituras e outras manualidades”,Pátio (2018) “Como viver juntos mais que um?”, “Sopro”, um solo de dança com atmosfera de Margarida Agostinho e música de Bruno de Azevedo (2017), “Sarzedas” (2018) um ajuntamneto performativo nascido da experiência com pessoas e lugares da aldeia de Sarzedas. Pátio (2019/2020/2021/2022/2023) – Criação Colectiva em vários lugares alternativos.
Hapenings e Performance Instalações
Festival Westfalia “12 Performance/Instalation” (1992), I.S.E.G. “30 Performances” (1996), Festival X “ Veemente“ (1996), “Imprime”(2006). “Largada” (2009) bem como várias intervenções nas ruas da cidade nos últimos 14 anos, concebidas com Margarida Agostinho, e que incluem, por exemplo, “Andar devagar”, “ler na rua”, “escritos da rua” ou “SincroniCidades”
Intervenções Urbanas
Linha do Estoril “ 40 performers para Turistas” (1998), Lisboa “Mudormance” (2004), “Pedras d’Água na baixa Lisboeta” (2006), Projecto Memória “Relva no Camões” (2007), “Pedras d’Água na Baixa Lisboeta” (2007), “Pedras d’Água na baixa Lisboeta” (2008), Festival Urbano Pedras d’Água 09 (2009), Festival Urbano Pedras d’Água10 (2010), Festival Urbano Pedras d’Água11(2011), Pedras12(2012), Pedras13(2013), Pedras 14- O Futuro Foi Assim(2014), Pedras 15-A Arte de Caber em Toda a Parte(2015), Pedras 16-Casa Connosco (2016), Pedras17- Manual de Estar (2017), Pedras18-Em que mundo queremos viver? (2018), Pedras19-Talvez o nada possa ser alguma coisa (2019) e Pedras 20- Don’t feed the Meaning! (2020).
Intervenções Urbanas a Convite
Antiquários da Rua de S. Bento “1001 Rosas para 3 Noites” (2002), Lojistas da Rua Castilho “Hibern” (2002), Antiquários da Rua de S. Bento “Azul o Som da Noite” (2003), Antiquários de S. Bento “Fumos do Oriente” (2004), Antiquários de S. Bento “Lisboa e a Europa” (2007), Associação de Comerciantes da Rua de S. Bento “Lisboa e o Rio” (2008). Pedras 21- O Pequeno Caos (2021), Pedras 22- 1º Festival SonHoro-(2022)
Conferências e orientação de laboratórios em contextos académicos e outros
Destaca:
-Conferência Internacional sobre a Cultura das Redes, a convite do Centro Nacional de Cultura, na pessoa de Professor Bragança de Miranda – Fundação Calouste Gulbenkian (Outubro de 2001),
-Conferência “Novas Dinâmicas Artísticas” Angra do Heroísmo – Açores (2003).
-Encontro Nacional – “A Dança no Sistema Educativo Português” a convite de Daniel Tércio e Gil Mendo –Faculdade de Motricidade Humana, Lisboa (2003).
-Em nome das Artes em nome dos Públicos- Culturgest (2012)
-Encontro “Defina Família” na Universidade Lusíada do Porto (2012)
-Arts and the economic crisis-an oportunity for the 3rd sector?-Fundação Calouste Gulbenkian (2012)
-O Pensamento (in) Redor – Serviço Educativo da Culturgest (2013)
-A experiência da dança em diferentes comunidades humanas- Festival Cumplicidades-Culturgest (2015)
– O Corpo que Fala e Pensa, ESTAL (2017)
– Seminário “VIVER EM LISBOA” FMH/NOVA (2018)
– Escola de Inverno- O lugar da Cidade” IPPS-IUL – iscte (2019)
– Participação no Journeys to the In-Between/ Caos e Ordem a convite da Artéria (Ana Jara) e do Maat (2020).
– “Colaboração com a Porta 33-Funchal no âmbito do projecto COALESCER, Maio 2022”
Enquanto fundadora e parte da direcção da REDE – Associação de Estruturas Para a Dança Contemporânea(de que foi membro até 2011), organizou e participou em encontros e debates sobre várias áreas da Política Cultural desde 2003. Destaca nomeadamente a participação no Forum Cultural Europeu (Setembro de 2007), nas Conferências para a Educação Artística (2007) e nos Encontros AlCultur (2008).
Tem integrado vários debates em torno de novas urbanidades nomeadamente com os movimentos “Morar em Lisboa” e “Habita”
Publicações
– Práticas para ver o invisível e guardar segredo (2010), edições c.e.m
– Arte Agora-Pensamentos enraizados na experiência (2011) co-organizado por Christine Greiner, editora Annablume
-pedras 12, pessoas e lugares (2013), co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– pedras 13, práticas de corpo em cidade (2014), co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– movimento – escrito em estado de dança (2014), edições c.e.m
– pedras 14, O Futuro Foi Assim (2015) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
-Cidade Desassossegada, co-organizado com André Carmo e Ana Estevens-Le Monde Diplomatique (2015)
-pedras 15, A Arte de Caber em Toda a Parte (2016) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– pedras 16, Casa Connosco (2017) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– pedras 17, Manual de Estar (2018) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– pedras18, Em que mundo queremos viver? (2019) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– pedras 19, Talvez o nada possa ser alguma coisa (2019) co-escrito com a equipa do c.e.m, edições c.e.m
– Criar Corpo-Criar Cidade co-organizado com Ana Estevens, edição Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa em colaboração com o c.e.m-centro em movimento.
– “Criação” escrito com Margarida Agostinho (2020), edições c.e.m
– audiolivro “Histórias de um Cabelo e outras Aventuras” com música original de Bruno de Azevedo e produção da BZ5RECORDS